Vanguarda Operária

boletim informativo nº 9, abril de 2000

Lições da greve de 1990 na CSN e da luta contra a privatização

Terror do estado burguês contra a luta operária


                                                       Jornal do Brasil

“CAPTURA E NEUTRALIZAÇÃO”: As palavras evocam os esquadrões da morte que aterrorizaram América Latina, desde o Cone Sul até América Central. Efetivamente, vem de militares brasileiros que queriam exterminar os “subversivos” que ousam organizar lutas dos explorados e oprimidos. Porém, isto não é uma história dos piores anos da velha ditadura que governou o país entre 1964 e 1985. As recentes revelações espetaculares —sobre as atividades terroristas das forças armadas contra as lutas operárias em Volta Redonda há uma década— mostram o punho de ferro do estado capitalista na “democracia” burguesa de hoje, vigente no Brasil desde que os militares entregaram o governo aos políticos civis. Os mesmos repressores e conspiradores ficam na oficialidade brasileira hoje no regime de Fernando Henrique Cardoso.

Estas revelações são a ponta do icebergue do que a imprensa chama o “poder militar paralelo” no Brasil. O tema chegou de novo às manchetes recentemente, quando altos oficiais militares soltaram ameaças e xingações devido à criação de um Ministério de Defesa supostamente subordinado às estruturas civis. Ao contrário das ilusões semeadas pelos reformistas e frente-populistas, não é possível “democratizar” ou reformar as forças armadas que existem para defender o domínio da classe capitalista.

A repressão não é questão de indivíduos, nem de qual é o governo de turno no Palácio do Planalto. É função do estado capitalista, o qual, na famosa definição de Friedrich Engels, se reduz a “destacamentos especiais de homens armados” que existem para defender o domínio da classe exploradora. Durante a investigação dos crimes do exército na repressão da guerrilha de Araguaia, o presidente do ultra-reformista Partido “Comunista” do Brasil usou seu depoimento na Câmara Federal (maio de 1996) para proclamar que não são “opositores inflexíveis das Forças Armadas” e que estas “têm papel importante a jogar”. Mas a lição de toda a história da luta de classes mostra que o papel das forças armadas burguesas é a repressão sanguinária em serviço dos exploradores. A luta dos oprimidos deve se dirigir a varrer tudo este sistema capitalista e seu aparelho repressivo, mediante a revolução socialista internacional. Somente assim pode-se defender os trabalhadores das cidades e do campo contra o terror do braço armado da burguesia.

As revelações começaram em março de 1999 com a publicação do testemunho de Dalton Roberto de Melo Franco, ex-capitão do PrimeiroBatalhão de Forças Especiais, sobre a bomba que destruiu o memorial aos metalúrgicos assassinados pelo exército durante a grande greve de 1988 em Volta Redonda. Seguiu com a reabertura em junho do inquérito sobre o caso Riocentro, no qual uma bomba explodiu perto do concerto de 20.000 pessoas para o Dia do Trabalhador em 1981. E em agosto do ano passado, um militar revelou que o comandante das Forças Especiais preparou uma lista para a “neutralização”, depois da “captura (...) de forma clandestina”, de sete dirigentes da greve que paralisou a Companhia Siderúrgica Nacional por 31 dias em 1990, entre eles nosso camarada Cerezo (Carlos Alexandre Honorato). Deve ficar muito claro para todos: esta foi uma lista de pessoas a serem mortas.

Depois de ganhar seu processo contra a CSN, Cerezo acaba de voltar ao trabalho na usina nove anos e oito meses depois de ser demitido trás a greve de 1990. O jornal local Aqui (20/12/99) chamou o acontecimento “A vitória da insistência”, observando: “O que difere a história de Cerezo dos demais sindicalistas envolvidos [nas demissões daquela época] foi o que aconteceu de lá para cá. O soldador se recusou a fazer acordo com a empresa porque queria resgatar o direito moral de retornar ao trabalho”, não só para si mesmo mas para todos os demitidos. Depois de muitos anos, um tribunal de trabalho “finalmente concedeu a ele o termo de reintegração ao trabalho”. Aqui nota também que Cerezo fundou junto com outros ativistas a Liga Quarta-Internacionalista do Brasil (LQB), que edita o jornal Vanguarda Operária.

O estado burguês, máquina de terror contra os explorados

Cerezo foi entrevistado recentemente por The Internationalist, jornal do Grupo Internacionalista nos EUA. (O GI e a LQB são seções de nossa Liga pela IV Internacional.) No futuro publicaremos a entrevista completa; aqui nos concentramos em tirar as lições dos acontecimentos de 1990. Como disse Cerezo:

“Com a saída da ditadura militar e a instauração da ‘democracia’ burguesa, não houve uma modificação básica para os trabalhadores. O exército, a Polícia Militar, a guarda ficaram, ocupando a CSN contra as greves.... Não alterou a vida dos metalúrgicos: eles eram perseguidos pelo exército, pela polícia, tanto municipal e militar como a polícia da CSN.”
Volta Redonda tinha sido uma “Área de Segurança Nacional” sob a ditadura militar. Oficialmente isto acabou em 1985, mas na realidade seguiu oito anos mais, com a presença do 22o Batalhão de Infantaria Motorizada na cidade vizinha de Barra Mansa.

Durante a grande greve de 1988, na qual o camarada Cerezo fez parte do comando de greve, o exército invadiu a usina, ferindo 46 trabalhadores e assassinando os companheiros William Fernandes Leite de 22 anos, Valmir Freitas Monteiro de 27, e Carlos Augusto Barroso de 19 anos, no dia 9 de novembro. Mas inclusive a invasão militar, e as traições da burocracia sindical, não conseguiram quebrar o espírito dos operários, que resistiram nas ruas e dentro da usina, onde enfrentaram os tanques e jogaram pedras e até cal contra os soldados desde os telhados. A burguesia e suas forças armadas ficaram com muita raiva contra os trabalhadores de Volta Redonda, que ganharam nesta greve o turno de 6 horas.

Foto: The Internationalist

Volta Redonda: memorial aos trabalhadores
metalúrgicos William, Valmir and Barroso,
assassinados o 9/11/98 num ataque do exército
contra a greve da CSN. Como vingança, um 
comando do exército explodiou o memorial 
o dia depois da inauguração do mesmo.

Como provocação direta contra os trabalhadores, em setembro do ano passado o presidente Fernando Henrique Cardoso indicou a nomeação do general de Exército José Luiz Lopes da Silva, que comandou a invasão da CSN na qual os três grevistas foram assassinados, como ministro do Superior Tribunal Militar, órgão responsável pelo julgamento de processos contra militares. A indicação foi aprovada pelo Senado Federal, com a mobilização de toda a bancada governista. Ante a Comissão de Constituição e Justiça que o aprovou, Lopes falou com orgulho da invasão: “Sob o ponto de vista militar foi plenamente bem-sucedida” (O Estado de S. Paulo, 07/10/99).

Lopes da Silva não é o único a ser premiado por suas tentativas sanguinárias de esmagar a resistência dos trabalhadores. Já em 1989 quatro oficiais da PM do Rio de Janeiro foram condecorados com a medalha do Pacificador por sua atuação na invasão da CSN. De fato, um papel importante na operação foi jogada pela Polícia Militar, que trabalhou junto com o exército. Como sublinha Cerezo na entrevista:

“Toda nossa experiência com a polícia mostra realmente o que nós afirmamos, que os policiais, de nenhum tipo, não fazem parte do movimento operário.... Quando fizemos a luta para expulsar a guarda do sindicato de servidores públicos de Volta Redonda, não só influenciou a teoria, de que a polícia não deve fazer parte dos sindicatos, como Trotsky explica nos escritos sobre Alemanha e outros escritos, mas também nossa própria experiência de assistir essa repressão policial.”
O Primeiro de Maio de 1989, foi inaugurado em Volta Redonda o memorial a William, Valmir e Barroso, um projeto do famoso arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer. Continua Cerezo: “Na madrugada do dia seguinte, comandos do exército explodiram o memorial como vingança contra os metalúrgicos e contra a memória.” As ondas de choque da explosão, um simbólico segundo assassinato dos companheiros, estilhaçaram os vidros a 300 metros do local. Uma segunda carga que não detonara foi encontrada próxima aos destroços.

Embora o general de reserva Newton Cruz, ex-comandante militar do Planalto e ex-chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações, disse na época que aplaudia os autores da explosão, os porta-vozes das forças armadas queriam ocultar a verdade e negaram rotundamente o envolvimento do exército no atentado. 

Cerezo comenta:

“Passados alguns dias, os trabalhadores novamente procuraram erguer o memorial fazendo eles mesmos massa de concreto, e foi muito interessante porque o exército procurou fazer chantagens para não houvesse guindastes, para que nenhuma empresa pegasse o projeto de reconstrução do memorial. Então todas as empresas que eram solicitadas reerguer o memorial se recusavam se dizendo ameaçadas pelo exército. Os trabalhadores resolveram eles mesmos reerguer o memorial com suas próprias mãos.”
A explosão do memorial intensificou as dúvidas e suspeitas de muitos trabalhadores sobre a morte, menos de três meses antes, de José Juarez Antunes, dirigente da greve de 1988. Juarez foi eleito prefeito de Volta Redonda depois da greve e tinha 51 dias no cargo quando morreu em um suposto acidente de automóvel.

O bispo de Volta Redonda, D. Waldyr Calheiros, narra que um agente da Polícia Federal lhe havia advertido que tanto ele como Juarez estavam designados para serem assassinados em supostos “acidentes” em locais distantes da cidade (Diário do Vale, 17/03/99). Embora Juarez foi eleito como candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT), o partido populista burguês de Leonel Brizola, muitos capitalistas e militares consideravam sua eleição uma ofensa e um desafio por parte dos trabalhadores contra a “ordem”. Logo depois, foram ameaçados de morte o ex-presidente do sindicato, Marcelo Felício, hoje no partido de FHC, e um advogado contratado pelo sindicato para acompanhar as investigações da morte de Juarez.

As revelações do ex-capitão Dalton

A existência da lista da morte contra Cerezo e outros líderes da greve de 1990 foi divulgada como parte da série de revelações sobre o atentado contra o Monumento 9 de Novembro, e outros aspectos do terror militar, que sacudiram o país nos meses recentes. A greve de julho de 1990 estourou contra a campanha da burguesia de vitimar os trabalhadores da CSN, como preparação para a privatização da empresa. A seqüência dos acontecimentos ajuda a ver os mecanismos e engrenagens do poder estatal da burguesia brasileira.

Em abril do ano passado, Jornal do Brasil publicou as revelações de Dalton Roberto de Melo Franco, ex-capitão do Primeiro Batalhão de Forças Especiais. Dalton as fez originalmente como parte de sua defesa num processo militar instaurado em dezembro de 1998 sobre seu suposto “desvio de munições” oito anos antes. Dalton disse que tinha sido perseguido e castigado por vários oficiais, entre eles o tristemente célebre general José Siqueira, ex-secretário de Segurança do Rio e amigo de Leonel Brizola.

                                                                                     Jornal do Brasil

O ex-capitão Dalton (direita) revelou que o general Álvaro de Souza Pinheiro 
(esquerda) deu a ordem de explodir o memorial Nove de Novembro. 

Alegando ser alvo de um embuste militar, o ex-capitão Dalton disse que foi punido e logo expulso do exército porque tinha recebido a ordem de participar do atentado contra o Memorial Nove de Novembro em Volta Redonda mas se recusou a fazê-lo sem um ato por escrito. Dalton tinha feito parte de um grupo de oficiais das Forças Especiais infiltrado na CSN em 1988 para identificar e “isolar rapidamente os líderes” durante a invasão do exército. No ano seguinte, quando ia ser erguido o memorial, disse, “o Exército achou que aquilo era uma afronta, que se estava querendo criar mártires” (Jornal do Brasil, 14/03/99). 

Dalton narrou que ele recebeu uma ordem do então coronel (agora general) Álvaro de Souza Pinheiro para explodir o monumento, e quando se recusou, a tarefa foi cumprida por outros agentes. “A dinamite foi dada pelos bicheiros do Rio e tirada de pedreiras da Baixada Fluminense. Eles ajudaram a montar um paiol com munição que depois seria usada em várias operações irregulares”, contou. A dinamite foi acondicionada em mochilas camufladas conseguidas quando o exército apreendeu armamento de um navio de bandeira panamenha em 1986.

O ex-capitão fez também uma descrição das atividades de seu batalhão, modelado obviamente sobre o padrão das Forças Especiais (“boinas verdes”) especializadas em contrainsurgência e operações “não convencionais” que EUA usou em tarefas de extermínio e terrorismo no Vietnã. Em palavras do Jornal do Brasil da mesma data:

“O Primeiro Batalhão de Forças Especiais é a menina dos olhos de qualquer comandante do Exército Brasileiro. Criado na década de 60, reúne soldados com fama de guerreiros ao melhor estilo Rambo.”
Dalton contou que em mais de dez anos no batalhão, fez trabalhos de espionagem em todos os países de fronteira com o Brasil da Argentina às Guianas. O general Pinheiro tinha participado da repressão à guerrilha do Araguaia, e segundo Dalton o batalhão fez missões de contrainsurgência na Colómbia, a Nicarágua e El Salvador. No início da década de 90, soldados das Forças Especiais estiveram em El Salvador às vésperas do acordo de “paz” entre o governo e a guerrilha da FMLN. “Havia setores rebeldes que não queriam o acordo. Nosso destacamento deu apoio a um grupo de contra-guerrilheiros americanos”, disse.

Uma cadeia de atentados e provocações

Como resposta ao escândalo detonado pelo ex-capitão Dalton, o exército instaurou um Inquérito Militar Policial (IPM) para “apurar” suas revelações. Quem indicou o encarregado do IPM? O mesmo general José Luiz Lopes que comandou a invasão da CSN em 1988, e que agora é chefe do Comando Militar do Leste. O IPM foi acompanhado por uma comissão especial da assembléia legislativa do estado do Rio de Janeiro (ALERJ), que “uniu” os deputados, desde os governistas até a “oposição” frente-populista do Partido dos Trabalhadores e PCdoB e seus parceiros burgueses do PDT de Brizola, o Partido Socialista Brasileiro do latifundiário Miguel Arraes, etc. Por sua parte, o pelego da Força Sindical, Luizinho, disse que a investigação “é bom para o Exército, é bom para a sociedade” (Diário do Vale, 18/03/99). Desta maneira, o promotor da “parceria” com a CSN ostentou mais uma vez sua lealdade aos exploradores e seu estado. 

Agora, no “país dos CPI”, os IPM são um claro exemplo da continuidade de muitas instituições da atual “democracia brasileira” com a velha ditadura militar. A instituição do IPM foi criado em 1964, trás o golpe militar daquele ano, como parte da “Grande Estratégia da Doutrina de Segurança Nacional”, especificamente como ferramenta para identificar e expurgar elementos “subversivos”. A “justiça” burguesa, tanto militar como cível, existe para defender o domínio da classe capitalista, o que significa nesta sociedade o terror racista e anti-operário. Há vários meses, a imprensa revelou que só em São Paulo, “sumiram” mais de 1.100 inquéritos e processos em que policiais militares são acusados de crimes graves, o 80% dos quais se referem a assassinatos de civis, muitos deles menores de idade (O Globo, 23/05/99).

O IPM mais famoso da história brasileira, sobre o caso Riocentro, voltou às manchetes novamente durante os meses recentes, no contexto das revelações do ex-capitão Dalton. Na noite de 30 de abril de 1981, uma bomba explodiu dentro do automóvel onde estavam dois oficiais do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna), órgão de terror e tortura das forças armadas; um deles morreu, o outro foi gravemente ferido. Ocorreu num momento de viragem do país, após as grandes greves dos metalúrgicos dos últimos anos da década de 70. A explosão ocorreu perto do Riocentro, onde 20.000 pessoas assistiam ao show do Dia do Trabalho no qual participavam Caetano Veloso, Milton Nascimento, Gilberto Gil e outros artistas. O IPM original declarou que tratava-se de um atentado de “terroristas” contra os militares, e esta fraude descarada foi usada para incitar mais o terror branco contra os “subversivos”.

Quase duas décadas depois, frente às declarações de Dalton em 1999, o exército enfrentou pressões para reabrir o caso Riocentro. A primeira resposta das forças armadas foi uma ameaça apenas disfarçada: o comandante do exército declarou que a tentativa de reabertura “inquietava” os militares e exigiu o “abandono de ressentimentos e discordâncias”. A segunda resposta foi a montagem de uma operação de “controle de danos” através de um novo IPM. Até o jornal burguês O Globo (09/05/99) advertiu que se podia “evitar que o IPM acabe revelando as entranhas do poder militar paralelo dos anos 80, comprometendo biografias e tumultuando o ambiente militar às vésperas da criação do Ministério da Defesa”. Então se decidiu sacrificar Wilson Machado, que sobreviveu a bomba, e o general Newton Cruz, indiciando eles por homicídio qualificado, e falso testemunho e desobediência respectivamente. Trás tentar manter o silêncio devido a que a lei que criou o SNI em 1964 eximia seus agentes de dar testemunho, Cruz admitiu haver sabido da bomba antes da explosão. 

Na realidade, a conspiração envolvia toda a estrutura do terror militar. Nas entrevistas na imprensa, os depoimentos parlamentares e demais falações de pessoas associadas com os grupos de terror militar —entre eles ex-militares e “militantes de extrema-direita” vinculados às forças armadas e o Comando de Caça aos Comunistas (CCC)— se revelou que a intenção original era acobertar uma explosão de bombas colocadas dentro do auditório do Riocentro, que só foram desativadas após do fracasso da missão dos oficiais que levaram uma bomba em seu carro.

Além disso, o atentado fez parte dos atos terroristas da “comunidade de informações” que incluíram as bombas que assassinaram uma secretária da Ordem dos Advogados do Brasil e mutilaram um funcionário da Câmara Municipal do RJ, e os atentados contra bancas de jornais na mesma cidade, usados para criar um pânico de “terrorismo”. Segundo o ex-capitão Dalton, o exército considerou a possibilidade de voltar a explodir bancas de jornais no Rio durante as eleições de 1989. Dez anos depois, um ex-integrante do CCC ameaçou “detonar” um monumento ao guerrilheiro Carlos Marighella em São Paulo, dizendo que “nem preciso de ajuda de oficiais do Exército” e exigindo um monumento a Fleury, do sanguinário Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DOPS), porque “ele criou o Esquadrão da Morte que perseguia e eliminava os marginais e participou do combate aos terroristas” (Diário do Vale, 05/1199).


Informe militar secreto sobre o plano de captura e "neutralização"
de dirigentes da greve de 1990 na CSN.

Lista da morte

Os esquadrões da morte foram claramente a inspiração do plano para a captura e “neutralização” clandestina de grevistas da CSN projetado em 1990 pelo comandante do Batalhão de Forças Especiais. Em agosto do ano passado, o Jornal do Brasil publicou uma extensa matéria sobre o plano, reproduzindo um informe secreto do então coronel Álvaro Pinheiro que o jornal obteve com um ex-oficial das forças armadas identificado como “R.” Dizendo que decidiu falar porque “vivi problemas por causa do Exército”, R. confirmou os dados fundamentais revelados antes pelo ex-capitão Dalton sobre as ações terroristas das Forças Especiais e entregou sete documentos do exército, entre eles três que detalhavam a movimentação dos metalúrgicos de Volta Redonda e as visitas de sindicalistas e políticos de outras cidades durante a greve de 1990.

O informe secreto de 31 de julho de 1990 começa com a observação do que “a greve da Companhia Siderúrgica Nacional completou 20 dias a 30 de julho” e que “a proposta apresentada pelo presidente [da CSN] ROBERTO PROCÓPIO LIMA NETO (...) foi rejeitada pela categoria”. (Lima Neto era testa-de-ferro dos capitalistas mais interessados na privatização da CSN, e converteu-se em um político direitista.) 

Continua com informações pormenorizadas sobre os oradores e discussões em assembléias sindicais, sublinhando as divergências entre os ativistas mais combativos e “a ala ‘moderada’ do Sindicato, que tem no presidente VAGNER BARCELOS a sua maior expressão, [o que] está frontalmente contrária a qualquer tipo de radicalização”. (Barcelos era militante da corrente petista Democracia Socialista, seguidores do falecido pseudo-trotskista Ernest Mandel; logo pertenceu ao gabinete do ministro de FHC, Pelé.) Destaca “a proposta do bloqueio da Rodovia Presidente Dutra, apresentada (...) por ativistas da CONVERGÊNCIA SOCIALISTA (CS) e da ORGANIZAÇÃO QUARTA INTERNACIONAL (OQI)”. Observa além disso que a companhia da Polícia Militar sediada na cidade “não possui nem credibilidade nem confiabilidade para restabelecer a ordem quando necessário”.

Logo depois dá uma lista de “elementos que se destacam pela sua posição radical”, dando o nome completo e apelido de cada um, entre eles Luiz Antônio Vieira Albano, Marcelo Felício, Isaque Fonseca, Wanderley Barcelos, Nilson Carneiro Sales e Luiz Antônio Coelho Ferla. Um dos primeiros na lista de pessoas a serem mortas foi o seguinte:

“CARLOS ALEXANDRE HONORATO —‘CEREZO’— Ativista sindical. É integrante exponencial da OQI e militante do PT de VOLTA REDONDA.”
A inclusão nesta listagem significava ser marcado para a morte, como mostrou-se na próxima parte, o plano de eliminação:
“Na iminência do desencadeamento de ações que caracterizem grave perturbação da ordem (bloqueio da Dutra, ocupação de pontos sensíveis dentro ou fora da CSN, saques etc.), esses elementos devem ser de imediato neutralizados. É importante ressaltar que sua captura, desde que efetuada de forma clandestina, não será de difícil execução, tal a liberdade e a despreocupação com que circulam no momento.”
Comenta JB: “Quando o então [coronel] Álvaro propõe a ‘captura’ e ‘neutralização’ de líderes sindicais, remetendo a sugestão a escalões superiores, é possível supor que tivesse a complacência de quem o comandava. Até porque não se tem notícia de que ele foi punido por fazer uma proposta ilegal.” Punido? Ele foi promovido e agora é general. Com a falsa ingenuidade da imprensa burguesa, JB pergunta: “Afinal, o que significa capturar e neutralizar, clandestinamente, operários em greve?”

Todos sabem a resposta: na gíria da “comunidade das informações”, neutralizar é uma das muitas expressões que significam matar. Nos EUA, o “programa de contrainteligência” (COINTELPRO) da polícia secreta FBI para “neutralizar” radicais negros conduz ao assassinato de 38 militantes do Partido Pantera Negra e a morte de muitos outros lutadores contra a opressão racista. O embuste policial contra Mumia Abu-Jamal, ex Pantera Negra e jornalista radical condenado à morte em Pensilvânia, foi a culminação de anos de perseguições dele sob este mesmo programa policial. Ao lutar por mobilizar a força da classe operária para libertar Jamal, estamos lutando também contra o terror do estado capitalista no Brasil e ao redor do mundo.

                                                                     Marcos de Oliveira/Imagens da Terra

Assembléia de metalúrgicos na greve de 31 dias, Volta Redonda, julho de 1990. 

O que foi a greve de 1990

O camarada Cerezo, na entrevista com The Internationalist, observa que “na época suspeitávamos, mas hoje as revelações confirmam a suspeita de que realmente eles pretendiam capturar e neutralizar parte do comando da greve” em 1990. Essa greve foi uma das lutas mais importantes no período anterior ao leilão (doação) da CSN. A privatização da CSN seguiu o plano apresentado originalmente pelo governo ultra-corrupto de Collor de Melo; foi levada a cabo pelo presidente Itamar Franco com o apoio do governador Leonel Brizola. (Tanto Franco como Brizola são hoje grandes “heróis” da frente popular.)

“A greve estourou porque a CSN estava devendo cerca de quatro a seis meses de salário para cada metalúrgico”, lembra Cerezo, “com o pretexto de que estava quebrando, que estava em crise financeira.” À mesma vez a CSN tinha fornecido por muito tempo aço a preços abaixo dos custos de produção para as grandes empresas nacionais e internacionais. “Então foi convocada uma luta exigindo esses salários, também contra a privatização e pela reintegração de alguns demitidos.” Continua:

“É importante assinalar que essa luta ocorreu imediatamente após a eleição de Collor, que falava claramente que a CSN podia fechar as portas.... Uma das formas de expressar o ataque de Collor foi não pagar a dívida atrasada [da empresa] e preparar uma lista para demissões para prepará-la para a privatização. Ele enviou o seu testa-de-ferro, Procópio Lima Neto, para cumprir essa missão. Lima Neto foi indicado pelo grupo empresarial Monteiro Aranha que vivia de corrupção e preparando-se para ter uma parte grande nas privatizações. Era um grupo testa-de-ferro das empresas imperialistas que pressionava em todo momento e chantageava como um grupo pioneiro na exigência das privatizações com demissões massivas na CSN e outras estatais.
“Então a greve era contra tudo isso. Era a recepção hostil dos trabalhadores contra esta testa-de-ferro do imperialismo e do grande capital brasileiro.”

Por sua parte, o Procópio não ocultava seu desprezo e ódio para os trabalhadores, inclusive na forma em que referia-se ao assassinato de grevistas em 88. Perguntado sobre a decisão de não convocar tropas contra a greve do 90, Lima Neto respondeu: “Não vou dar mais cadáveres para eles.”

Para a convocação desta greve, Cerezo e o grupo Luta Metalúrgica (antecessora da LQB), junto com outros ativistas, tiveram que lutar muito contra a direção do sindicato: “A burocracia sindical reagia, procurando criar obstáculos sobre a greve.” Com o mandelista Vagner Barcelos na frente, argumentava que não se podia lançar uma greve perante a crise da empresa, e que a CUT devia evitar ser acusada de instigar o “caos”.

A greve de 31 dias foi precedida pela ocupação da usina o 11 de maio de 1990. No começo da ocupação, um contingente de 8.000 trabalhadores entrou na usina cantando a Internacional, hino revolucionário da classe operária composto durante a Comuna de Paris. “Várias vezes cantaram, nas passeatas, nas assembléias, a Internacional. Muito bonito, muito emocionante, e mostrou a imponência da radicalidade daquela luta,” destaca Cerezo. “Os trabalhadores já estavam acostumados, porque antes o carro de som do sindicato tocava sempre a fita da Internacional, às vezes distribuíam as letras para que os trabalhadores pudessem cantar os versos.”

                                                                                              João Ripper/Imagens da Terra

Manifestação de ferroviários contra as demissões em massa na 
Companhia Siderúrgica Nacional, maio de 1990.

Numa grande assembléia celebrada durante esta ocupação, o camarada Cerezo apresentou a proposta de manter e aprofundar a mobilização e mostrar um caminho de luta para todo o movimento operário. Em pouco tempo estourariam greves importantes dos operários da Ford e dos eletricitários; milhões de trabalhadores em tudo o Brasil queriam resistir o brutal arrocho salarial e as demissões. Porém, os porta-vozes da burocracia conseguiram pressionar os trabalhadores para a suspensão temporária da ocupação e a apresentação de alternativas reformistas para o “saneamento” da empresa.

Lutando contra essa perspectiva entreguista, em julho “nós convocamos outra assembléia e esta vez a assembléia deliberou pela greve”, lembra Cerezo. “A greve de 31 dias foi muito mobilizada, teve ampla participação, de entre 28 mil e 30 trabalhadores, que não se deixaram intimidar pelo assassinato de William, Valmir e Barroso na greve de 88, e resolveram enfrentar essa situação.”

Mas apesar do entusiasmo dos trabalhadores e o potencial para ampliar a luta, em meio da greve da CSN surgiu uma tentativa de sabotagem reformista capitaneada pelos representantes da Convergência Socialista (antecessora do PSTU), seguidores do falecido pseudo-trotskista argentino Nahuel Moreno. Explica Cerezo:

“Nos meiados da greve, Convergência propôs que as dívidas da CSN com os metalúrgicos fossem trocadas por debéntures, que são títulos onde os trabalhadores ficariam detentores desses títulos para esperar uma suposta melhoria da CSN, o que supõe que a Convergência absorveu o discurso de crise da CSN. Se sabia que os capitalistas diziam isso para explorar e demitir os trabalhadores. Mas criaram essa ilusão de trocar as dívidas de quatro a seis salários por títulos, debéntures e outras letras do governo. Assim, abriu-se a porta à privatização da CSN. A proposta foi da Convergência e os mandelistas, esquerda católica, o PDT, que era parte da direção sindical, aceitaram isso. Isso foi um golpe profundo que nós combatemos na época.”
Na realidade, continua, “isso foi a pedra fundamental do Clube de Investimento que foi criado dois anos depois” pelos frente-populistas para facilitar a privatização da CSN. “Foi uma colaboração de classes com disfarce do que a CSN estava em crise, que era insustentável, então criaram uma frase ‘esquerdista’ de resgatar a dívida quando a empresa recuperar.... Os morenistas foram os pioneiros da ‘parceria’.” A mesma lógica reformista lhes levou mais tarde a participar diretamente na Frente Brasil Popular, a aliança de colaboração de classes entre políticos burgueses e o PT reformista de Lula.

Toda essa história, na qual os protagonistas principais incluíam militantes de três correntes que se identificavam (erroneamente) como trotskistas, sublinha que a luta para uma direção autenticamente classista é ao mesmo tempo a luta pelo trotskismo genuíno. Esta é a tarefa que assume a Liga Quarta-Internacionalista do Brasil.

As três forcas da burocracia e o ataque do Procópio

Falando desta traição da Convergência, Cerezo assinala: “Mesmo assim, com sua colaboração descarada, não conseguiram fazer a greve paralisar. A greve continuou por mais quinze dias.” Continua:

“Num determinado dia, os burocratas sindicais não queriam que eu falasse na assembléia e procurou impedî-lo a través de alguns pelegos violentos que tentaram impedir pela força. Então, rompi o cerco desses homens violentos, subi no carro do som e disse que só aceitaria não falar se a massa votasse para mim não falar. Foi uma assembléia de aproximadamente 5 mil operários. Disputando o microfone com o burocrata sindical, os trabalhadores votaram massivamente que eu usasse a palavra. O pelego foi derrotado e obrigado a ceder o microfone onde eu coloquei a preocupação de que tanto a burocracia como a Convergência estavam criando obstáculos para derrotar a nossa greve.

“Então, nos próximos dias a burocracia sindical criou três cordas em forma de forca, ameaçando de enforcamento eu, Nilson e outro ativista da Luta Metalúrgica, Boquinha, como linchamento. A partir do décimo quinto dia da greve, nas assembléias já botaram um grande pau com as três forcas dizendo que eram para nós. Foi um burocrata do PDT e também o mandelista Vagner. Isto foi relacionado diretamente que nós não falássemos nada e eles queriam acabar com a greve.”

Porém, explica Cerezo, “não nos deixamos intimidar, procuramos falar nas assembléias e fizemos a proposta que para a greve se expandir, deveria ocupar a Rodovia Presidente Dutra para transmitir para outros trabalhadores a nossa luta, e também que juntássemos à greve da Ford que estava ocorrendo naquele momento, e dos eletricistas. Esta proposta recebeu o apoio dos trabalhadores.”

Essas foram as discussões que tanto preocuparam os oficiais e espiões do Batalhão de Forças Especiais, como se vê nos documentos revelados agora pelo ex-capitão Dalton. Foi contra o plano para expandir a greve, em particular, que eles fizeram a proposta de captura e neutralização.

Quando os pelegos não conseguiram evitar que Cerezo falasse, Procópio Lima Neto atacou Cerezo no Informativo da CSN, dizendo que as propostas de Cerezo eram perigosas e que a greve “está sendo utilizada para fins políticos”. Sob o título “Nossa resposta ao Procópio”, o boletim Luta Metalúrgica (agosto de 1990) contestou:

SIM, NOSSA GREVE É POLÍTICA. É a política de defesa do operário massacrado pelo arrocho salarial.... Nossa greve é contra a sua política de privatização, de sucatear a CSN para pagar a dívida externa. Nossa greve e contra sua política e a do governo que você representa....”
As palavras-de-ordem colocadas por Luta Metalúrgica durante a greve incluíam também a abertura da contabilidade da empresa para a inspeção dos trabalhadores, a redução da jornada de trabalho sem redução de salários , e o controle operário da produção.

Papel fura-greves da frente popular

Cerezo narra que apesar do apoio dos trabalhadores para a proposta de expandir a greve, “a burocracia não acatou a proposta e convocou Lula para ir até Volta Redonda.”

“Então o Lula foi até Volta Redonda e se reuniu com os ativistas, excluindo os ativistas de Luta Metalúrgica como eu, Nilson e Boquinha, e falou para eles que nós representávamos um perigo. E Lula orientou que a greve deveria acabar e não deveria seguir propostas destes radicais como Cerezo, Nilson, Boquinha, etc.

“A partir dali a burocracia sindical passou a golpear profundamente a greve até finalmente derrotá-la sem assembléia, de forma traidora, onde ocorreram diversas demissões. Aproximadamente três dias depois da vinda de Lula, a greve terminou. Foi uma profunda traição contra os trabalhadores.”

Cerezo explica que essa traição foi a aplicação direta da política da frente popular. Embora o PT saiu da onda de lutas operárias tumultuosas do fim da década de 70 e começo da década de 80, o partido de Lula sempre havia tido um programa reformista. Porém, evolucionando-se à direita abandonou sua palavra-de-ordem original de “trabalhador vote em trabalhador” e decidiu cristalizar o programa de colaboração de classes formando a Frente Brasil Popular com políticos burgueses para as eleições presidenciais de 1989.

                                               La Jornada

Luiz Inácio Lula da Silva, lider do PT, 
apareciou em Volta Redonda em agosto 
de 1990 para fechar a greve e isolar 
a dirigentes combativos como Cerezo. 

Eleito presidente do PT de Volta Redonda em 1988, Cerezo tinha votado contra a Frente Brasil Popular no 6o Encontro do PT celebrado em São Paulo em junho de 89. Sua posição foi aprovada numa plenária de 290 militantes do PT/VR, contra a oposição violenta da Convergência Socialista em particular. Foi neste contexto que Cerezo e outros militantes de Luta Metalúrgica entraram na Causa Operária (cujo nome formal era OQI), crendo naquele momento que CO representava uma oposição proletária à colaboração de classes, embora na realidade esta organização votava em Lula, candidato da frente popular.

Explica Cerezo que “a frente popular estava plenamante em vigor e estava agindo”:

“Então, a formação da frente popular e a traição à greve de 90 são acontecimentos diretamente relacionados.

“Os esquerdistas que agiram dentro do sindicato contra nós estavam na frente popular. Os mandelistas, que na época dirigiam o sindicato, inclusive no período imediatamente antes da greve eles chamavam por um governo de Lula e Brizola, o seja propunham uma frente popular mais à direita ainda, que incluísse não só o PSB mas também o PDT, o que logo foi feito [para as eleições de 98].”

No ano depois da greve, o PT iniciou o expurgo de sua ala esquerda, começando com Causa Operária. Os primeiros alvos foram os companheiros de Luta Metalúrgica em Volta Redonda. Em um documento de 1991 escrito às vésperas do I Congresso do PT, Cerezo escreveu que esta “caça às bruxas” ocorria “num momento de ameaça de privatização da CSN, com a conseqüente demissão em massa”, depois de que o proletariado da cidade havia enfrentado de fato “a ‘Área de Segurança Nacional’, e enfrentou corajosamente o braço armado da burguesia — o exército”. Advertiu que a privatização e a repressão eram “a solução que a frente popular prepara para a população de Volta Redonda”.

A resposta dos dirigentes reformistas foi contundente: “Como eles não o conseguiram pelo voto em Volta Redonda, mandaram João Machado, um mandelista da direção nacional do PT; Jorge Bitar (PT-RJ), hoje secretário de plejamento do governador carioca Garotinho; Dodora, da Força Socialista (outra corrente do PT), coordinadora do SEPE/VR; o Vagner Barcelos; Ernesto Braga, que hoje é presidente do PT, e formaram uma comissão especial para fazer intervenção no PT/VR para nos expulsar.” (O nome da corrente mandelista no PT é Democracia Socialista; em outras palavras, “democracia” para a burguesia, exclusão para militantes classistas.) Os companheiros de LM chegaram a uma reunião do PT e descobriram um papel posto na parede anunciando que já tinham sido “excluídos” do partido.

Para os dirigentes reformistas do PT, estas exclusões foram a contraparte do processo de aprofundar a colaboração de classes, manifesta por exemplo na participação do PT e da CUT nas “câmaras setoriais”com os patrões e o governo Collor, a presença da petista Erundinha no gabinete do presidente Itamar Franco; a participação do PT nos governos municipais e estaduais do PMDB, PSDB e PDT, etc. Mas mesmo onde o PT é governo, sua política não difere destes partidos burgueses.

Mas os companheiros seguiram na luta pela independência revolucionária da classe operária, o que lhes levou mais tarde a discordar da política de Causa Operária. Na entrevista com The Internationalist, Cerezo disse:

“Causa Operária falou em 89 que seria contra a frente popular. Porém, desde 89 até 94, quando estivemos na CO, na realidade ela ficou à reboque de Lula e o PT.... Em todas as eleições ela se apresentava apoiando e votando no Lula.

“Durante a greve de 90 suas publicações eram formalmente combativas, mas com respeito ao programa revolucionário e questões importantes como a questão da mulher, a questão do negro, a defesa dos homossexuais, eles ignoravam completamente estas questões.

“Então, nós, sabendo do problema da frente popular, procuramos fazer uma verificação mais profunda do programa e constatamos que havia um imenso vazio nesse programa, e resolver lutar sobre a questão do negro, da mulher, da frente popular, onde colocamos um documento em 94 colocando nosso repúdio a essa política de colaboração de classe, essa política de esquecer a luta revolucionária contra a opressão especial.”

Cerezo sublinha:
“Nossa política de combate contra a colaboração de classes significa nenhum voto a nenhum candidato da frente popular. Temos visto e vivido o que é a frente popular, nos fatos, e como é inimiga da classe operária. Sobre a base destas experiências e lições, nosso grupo teve uma evolução revolucionária. Lutamos por um partido operário revolucionário, um partido trotskista. Em 1996, formamos a Liga Quarta-Internacionalista do Brasil, que dois anos mais tarde foi uma das seções fundadoras da Liga pela IV Internacional.”

                                                    Vanguarda Operária

Cerezo mostra cartaz com foto da grande greve de 1988, na qual os trabalhadores 
desafiaram o exército burguês. O partido revolucionário é a memoria a classe 
operária, tirando as lições das lutas para preparar a vitória dos explorados 
e oprimidos: a revolução socialista.

A luta continua: Forjar o partido operário revolucionário!

Os mesmos que lutaram contra a repressão do estado burguês, contra a frente popular, pela defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores, seguem na luta pelos interesses de todos os explorados e oprimidos, a luta pela revolução socialista internacional. Ficaram em seu posto de combate, e convocam aos novos elementos a juntar-se à luta.

Havendo denunciado o “braço armado da burguesia” que reprimiu os grevistas e inclusive preparou a lista da morte, em 1996 fizemos a luta para expulsar os guardas municipais do SFPMVR (votada pela assembléia de 25/07/96). No seguinte ano, a LQB e o Comitê de Luta Classista denunciamos o apoio da “esquerda” oportunista às “greves” da PM, insistindo que os policiais são profissionais da repressão burguesa que devem ser expulsos de todos os sindicatos e da CUT. Temos defendido o programa classista contra as repressões, agressões e difamações dos provocadores pro-policiais da camarilha zubatovista de Artur Fernandes (e seus apologistas “esquerdistas”, entre eles a “Liga Bolchevique Internacionalista-Tendência Revolucionária Sindical”), imposta pelos tribunais burgueses contra a vontade da categoria para logo disfarçar-se como o SFPMVR; e temos defendido este programa contra o estado capitalista, que inclusive mandou a “busca e apreensão” de nossos boletins em setembro de 1997.

Nas eleições de 98, advertimos que a “Frente Ampla” de Lula e Brizola atava os explorados de mãos e pês ante a investida de FHC e o FMI, e como expressão da oposição proletária à frente popular chamamos a votar nulo. Contra a colaboração de classes, chamamos por mobilizações operárias para derrotar os planos de fome e miséria da burguesia brasileira e seus sócios maiores imperialistas.

Como parte da luta internacionalista contra a opressão dos negros, temos conseguido que vários sindicatos começassem a mobilizar-se em greves e paralisações exigindo a libertação imediata de Mumia Abu-Jamal, um primeiro passo que deve ser ampliado e intensificado. A luta pela libertação dos negros mediante a revolução socialista “é uma questão fundamental e estratégica como parte do programa da revolução permanente no Brasil”, observou Cerezo na entrevista, e se manifesta em muitas questões, “desde a luta contra a matança de meninos e meninas de rua até a esterilização forçosa de mulheres negras e a questão da leucopenia”. Muito antes do que a leucopenia converteu-se em “notícia” na imprensa burguesa, já em 93 no primeiro “seminário anti-racista da CUT”, a Luta Metalúrgica foi o primeiro em denunciar a política racista da CSN de chamá-la uma “doença de negros”.

Hoje, quando um número grande de leucopênicos estão lutando por seus direitos, a companhia insiste que a leucopenia “não é considerada doença pelos critérios do Ministério a Saúde” (O Estado de S. Paulo, 03/12/99). Ao mesmo tempo, mostrando a farsa das “leis ambientais” da burguesia, “o índice de benzeno no ar em Volta Redonda é 80 vezes maior que o permitido pela legislação”, como se observou em outra reportagem.

Então, as grandes questões das lutas de anos passados têm uma expressão atual e concreta no Brasil e na CSN hoje. Na entrevista Cerezo colocou o seguinte:

“Queremos lutar contra o retorno do turno de 8 horas, junto com a luta contra esse ataque aos leucopénicos. A CSN está querendo destruir a vitória dos trabalhadores na greve de 88, quando se conquistou o turno de 6 horas. Junto com a demissão dos leucopénicos, eles querem aumentar a jornada de trabalho e fazer demissões em massa. Produzimos um boletim sobre isso, que chama por uma greve combativa não só na CSN mas também em outras siderúrgicas para combater essa política de arrocho salarial, demissões e racismo da CSN.”
Esse boletim (Comitê de Luta Classista No. 11, 19/05/99) sublinha que esta greve deve ser acompanha pela paralisação da cidade de Volta Redonda e estender-se aos demais setores do império controlado pela CSN (Vale do Rio Doce, Light, etc.). Suas palavras-de-ordem incluem o fim das demissões e dos ritmos selvagens da produção; a redução da jornada de trabalho sem reduzir o salário, repartindo o trabalho entre os operários empregados e desempregados; abrir vagas de emprego às mulheres e estabelecer creches gratuitas de alta qualidade disponíveis as 24 horas. Diz o boletim:
“Numa situação onde os patrões tentam jogar os metalúrgicos brasileiros contra os operários de outros países, devemos declarar a nossa solidariedade com nossos irmãos de classe fazendo valer a máxima do movimento operário: ‘operários de todos os países, unî-vos!’(...) Forjar a direção classista coesionada num partido mundial da revolução socialista, numa IV Internacional reforjada, para liderar a luta pelo poder do proletariado e todos os oprimidos!”
Como Cerezo finalizou na entrevista: “Os jovens em particular são fundamentais para a revolução. Então queremos que eles conheçam a luta, que possam tirar lições das derrotas e vitórias, aprender, e sobre tudo, incorporar-se às fileiras da luta e da revolução. Contra qualquer obstáculo, estamos continuando e lutando, e convidamos aos trabalhadores a unir-se a nós.” n

E-mail: internationalistgroup@msn.com 

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