Nº 4,  janeiro/abril de 1999

Defender Taslima Nasreen!
Libertação da mulher mediante a revolução socialista

Publicamos abaixo uma declaração de protesto do Grupo Internacionalista em defesa da corajosa escritora de Bangladesh, Taslima Nasreen. Em 1994, Nasreen foi forçada a sair do seu país quando os fundamentalistas muçulmanos promulgaram um fatwa (decreto religioso), decretando a sua morte, acusando-a por blasfêmia por ter declarado que o Islã é opressivo para a mulher. Estava com a cabeca a prêmio. As autoridades do governo "leigo" de Bangladesh decidiram confiscar seu passaporte, prendendo e acuando-a sob uma obscura lei, datando dos tempos coloniais britânicos, contra "insultos" à religião. Quando ela escapou do país em 1994, fanáticos religiosos mobilizaram grandes multidões exigindo que ela fosse enforcada. 

Nasreen tinha se tornado bem conhecida internacionalmente por causa do seu livro de 1993 Lajja (Vergonha), que descrevia uma onda de pogroms (chacinas) organizadas por grupos muçulmanos de Bangladesh contra a minoria hindu. Após a destruição de uma mesquita por uma multidão de fanáticos hindus em Ayodhya, Índia, os ataques comunalistas (entre distintos grupos religiosos) estenderam-se ao país vizinho, Bangladesh, onde a maioria esmagadora da população é muçulmana e os hindus foram atacados. Nasreen declarou que todas as religiões oprimem a mulher e denunciou o frenesi fundamentalista de todos os lados. Por isto ela foi declarada como "infiel". 

Após escapar para o exílio e viver na Europa e Estados Unidos, Nasreen retornou para Bangladesh em setembro de 1998, esperando evitar publicidade e estar com sua mãe, que está morrendo de câncer. Porem, ela foi reconhecida e a presença dela no país foi publicada, detonando outro escalão de ameaças contra a sua vida. Hoje, defender esta corajosa e eloqüente voz contra a opressão é mais urgente que nunca. 

A causa de Taslima Nasreen é controversa entre muitos grupos feministas em Bangladesh que a vêem como um embaraço para o regime da xeque Hasina Wajed, a primeira ministra liberal, que auxilia os fanáticos islâmicos. A burguesia do país também acha que as opiniões de Nasreen – uma mistura de secularismo radical, feminismo, nacionalismo e simpatia geral pelas metas do socialismo – são uma ameaça às relações do regime com as agências e bancos imperialistas que financiam "projetos de investimentos de mulheres" em Bangladesh. 

Mas os xeques e banqueiros e os meios de comunicação não representam as mulheres oprimidas e na realidade são inimigos delas. Deste modo foi noticiado em junho de 1994 que cerca de 500 operárias da indústria têxtil em Dhakar, a capital do país, armadas com bastões, marcharam em desafio aos fundamentalistas e em defesa de Nasreen, dizendo que desta maneira elas estavam defendendo seus próprios direitos básicos.

Algumas feministas burguesas no Ocidente têm vacilado sobre e defesa de Nasreen, porque ela tem elogiado a Lênin. Apesar de que ela não é uma marxista revolucionária, ela reconheceu que a destruição da União Soviética (a qual ela erroneamente identificou como socialismo) representou um terrível golpe contra as mulheres. Ela escreveu um ensaio favoravelmente citando, uma após outra, muitas declaracões de Lênin exigindo que todo o movimento operário defendesse a causa da libertação da mulher, para integrar a mulher no trabalho socialmente produtivo e como combatentes dedicadas na luta revolucionária pelo poder dos trabalhadoes. 

Nasreen é essencialmente uma humanista leiga e não uma comunista, mas as questões apresentadas por seu caso e seus escritos sublinham a necessidade urgente de um partido leninista do proletariado que servirá como "tribuno do povo" contra toda forma de opressão. Nos países do Oriente e por todas as partes semicoloniais do mundo, o programa daquele partido deve basear-se na perspectiva da revolução permanente de Trotsky, na qual um elemento chave é a luta para mobilizar a classe operária na luta revolucionária para a emancipação da mulher. 



O Grupo Internacionalista/Liga pela Quarta Internacional condena as ameaças de repressão do estado capitalista e o terror dos linchadores fundamentalistas contra Taslima Nasreen. A corajosa novelista e poetisa de Bangladesh é famosa por sua ardente defesa dos direitos da mulher e seus escritos sobre temas desde V.I. Lênin até os horrores do fratricídio comunalista. Enquanto os fundamentalistas islâmicos têm colocado um preço por sua cabeça e tentam organizar grupos de linchamento contra ela, as autoridades do governo têm ameaçado prender Nasreen pelo "delito" de dizer a verdade sobre o papel do fundamentalismo religioso na brutal opressão contra a mulher. Sua vida corre mais risco que nunca desde que retornou para Bangladesh para ficar ao lado de sua mãe que está muito doente em fase terminal. 

Defender Taslima Nasreen! O caso dela não é somente uma questão de direitos democráticos básicos e cruciais, mas da luta pela emancipação da mulher e os interesses de toda e classe operária em Bangladesh (onde a opressão da mulher é uma ferramenta chave para encadear o proletarido, que em grande parte consiste em mulheres) e em todo o subcontinente indiano. Sua denúncia sobre as chacinas comunalistas que fazem brigar hindus contra muçulmanos mostra a necessidade urgente de superar os antagonismos religiosos, étnicos e nacionais que dividem a poderosa classe operária da região. Como revolucionários internacionalistas, nós exigimos que o governo e os reacionários clericais tirem as mãos desta corajosa escritora. Longe de proteger Nasreen, os governantes de Bangladesh serão responsáveis se algum mal acontecer a ela. 

Os porta-vozes ocidentais imperialistas (como o vice-presidente dos EUA Gore em sua recente viagem à Malásia) fazem hipócritas referências ao abuso dos "direitos humanos" em vários países islâmicos e alguns têm fingido simpatia pela situação de Nasreen. Porém, nos EUA e Europa, os imperialistas têm buscado excitar os preconceitos e a histeria contro os muçulmanos e árabes, como parte das caças-às-bruxas "anti-terroristas". Enquanto isto, em casa, a classe dominante dos EUA está tentando usar a pena de morte racista para silenciar outro escritor corajoso: Mumia Abu-Jamal, jornalista negro radical e ex-militante do Partido Pantera Negra que está no corredor da morte na Pensilvânia. 

A luta contra a repressão burguesa é verdadeiramente internacional, colocando a necessidade por um programa e liderança internacionalistas que unam os trabalhadores desde o subcontinente indiano até as massas chinesas ameaçadas com a restauração capitalista e as fortalezas industriais do Japão, Europa e Estados Unidos. Ao redor do mundo, a classe operária deve defender aqueles como Taslima Nasreen como parte da luta pela revolução socialista, o único meio de abolir a escravização e a degradação da mulher e de destruir toda forma de opressão e exploração. 

– 22 de novembro de 1998 
 

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