Nº 5,  agosto/setembro de 2000

Liberdade agora para Mumia Abu-Jamal!
Abolir a pena de morte racista nos EUA! 

Trabalhadores brasileiros mobilizam-se pela libertação de Mumia Abu-Jamal 
                                                                                                      CUT/RJ 

Faixa da CUT/RJ no carro do som durante a paralisação do dia 10 de novembro
de 1999. A luta internacionalista pela liberdade de Jamal exige poderosas 
mobilizações do proletariado contra a repressão racista.

Dando um exemplo inspirador de solidariedade operária internacional, trabalhadores brasileiros se têm mobilizado em repetidas ocasiões para exigir a libertação de Mumia Abu-Jamal. Esta série de paralisações e passeatas representa um passo importante na luta para salvar o afamado jornalista radical negro sentenciado à morte em Pensilvânia (EUA). Lança também um desafio ao movimento operário ao redor do mundo para que utilize sua enorme força para abolir a pena de morte racista. 

  • 10 de novembro: no estado do Rio de Janeiro a Central Única dos Trabalhadores incluiu a exigência da libertação de Mumia nas palavras-de-ordem da paralisação de 24 horas feita por os sindicatos da central. 
  • 22 de novembro: uma passeata predominantemente operária no Rio durante o "Dia da Consciência Negra" incluiu como uma das exigências centrais a libertação de Jamal. 
  • 25 de novembro: uma paralisação dos trabalhadores bancários do estado do Rio de Janeiro incluiu entre suas palavras-de-ordem "Liberdade para Mumia Abu-Jamal!" 
  • 7 de dezembro: o sindicato de trabalhadores de educação do Rio (Sepe) fez paralisação por meio dia, incluindo entre suas exigências principais a libertação de Mumia.
Isto foi a segunda vez que os trabalhadores de educação do Rio fizeram paralisação nas escolas pela causa de Jamal. No 23 de abril de 1999, o Sepe fez uma paralisação de uma hora em cada turno com atos em escala estadual para exigir que Jamal seja libertado. Isto ocorreu um dia antes da mobilização do sindicato de portuários dos Estados Unidos (ILWU), que no 24 de abril fechou todos os portos da Costa Oeste do país durante 10 horas exigindo: "Alto à execução! Liberdade para Mumia Abu-Jamal!" 

A Liga pela Quarta Internacional tem estado na primeira linha nos esforços por mobilizar o poder da classe operária para deter a máquina de morte do estado burguês. Os camaradas da seção brasileira, a Liga Quarta-Internacionalista do Brasil, iniciaram a paralisação dos professores de 23 de abril e as outras ações dos sindicatos do Rio para exigir a libertação imediata de Jamal. Ao redor do mundo, sindicatos que representam milhões de trabalhadores têm feito declarações a favor da libertação de Mumia. A chave consiste em converter estas declarações em poderosas ações operárias, como os trabalhadores brasileiros têm começado a fazer. O tempo apressa. Em outubro, o governador de Pensilvânia, Tom Ridge, assinou por segunda vez a ordem de execução de Jamal. A apelação de habeas corpus que os advogados de Mumia apresentaram no tribunal federal de distrito, conseguiu que se ordenasse uma suspensão temporária da ordem de execução até que se chegue a uma decisão judicial definitiva. Mas isto só nos dá um pouco de tempo e devemos usá-lo eficazmente para mobilizar a classe operária internacional em defesa de Mumia. 

Durante a paralisação nacional de 20 de novembro feita para protestar contra a política de "austeridade" anti-operária ditada pelo presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, jornalistas de Brasília levaram cartazes com retratos de Mumia exigindo sua libertação. As mobilizações mais fortes no Rio de Janeiro foram as dos sindicatos de professores (que fecharam 61 das 89 escolas do Rio), dos bancários, dos trabalhadores da previdência e dos petroleiros–os mesmos sindicatos que têm defendido proeminentemente a causa de Mumia. Durante a passeata no Rio, o carro de som da CUT tinha uma faixa que dizia "Trabalhadores do Brasil exigem também na greve geral: LIBERDADE para Mumia Abu-Jamal! Viva Zumbi e João Cândido!" Zumbi foi o dirigente do quilombo de Palmares, assassinado pelas tropas mercenárias coloniais o 20 de novembro de 1695. Cada ano se faz um ato para comemorar a morte deste defensor da liberdade dos negros. João Cândido foi dirigente da Revolta da Chibata lançada pelos marinheiros negros da armada brasileira no 22 de novembro de 1910. 

Depois da paralisação, uma reunião de Conexão Zumbi na sede da CUT no Rio aprovou a inclusão da exigência da libertação de Mumia como uma das palavras-de-ordem centrais da passeata de "consciência negra" do 22 de novembro. O boletim de Conexão Zumbi anunciava que a luta era contra o racismo, o sexismo, a política econômica de FHC e "pela libertação do grande líder negro afro-americano Abu-Jamal". Em seu boletim diário (Rápido, 12 de novembro), a CUT/RJ sublinhou que a passeata para honrar Zumbi exigirá também "a libertação do jornalista norte-americano Mumia Abu-Jamal, que está no corredor da morte. Na semana retrasada, os advogados de Mumia conseeguiram que o juiz William Yohn, da Filadélfia, grantisse a suspensão da execução, marcada para 2 de dezembro. O que o manterá vivo até março, ainda sob a ameaça de morte." 

Nos dias posteriores, boletins da CUT destacaram repetidamente a exigência do que Jamal seja libertado e a edição de novembro de seu jornal Conquista disse no cabeçalho: "CUT quer liberdade para Abu-Jamal". A matéria explica: "O movimento negro do Rio de Janeiro e a CUT/RJ estão empenhados na campanha pela liberdade para Abu-Jamal. Este foi, inclusive, um dos eixos do Dia Nacional de Paralisação e Protesto, em 10 de novembro." Depois de sublinhar a natureza política da sentença de morte contra Mumia e as inumeráveis "irregularidades" em seu julgamento de 1982, Conquista conclui: "Nestes casos é sempre bom lembrar dos mártires de Chicago que foram inocentados pela justiça depois de terem sido executados", fazendo referência aos militantes operários sentenciados à morte depois da provocação com um atentado de bomba em Haymarket Square em 1886, e que são comemorados cada Primeiro de Maio. 

A passeata de 22 de novembro no Rio teve ao redor de 500 participantes, entre eles um filho e uma filha de João Cândido (ela fez um discurso ao final do ato). Foi lida uma carta de Mumia aos trabalhadores brasileiros agradecendo-lhes a paralisação do 10 de novembro e enfatizando a importância deste tipo de ações de solidariedade internacional. Entre os sindicatos que estiveram presentes, vários destacaram a exigência da libertação de Mumia. O jornal dos trabalhadores bancários do Rio, Diário BancáRio (16 de novembro), publicou uma matéria que dizia "Abu-Jamal: Jornalista negro é condenado à morte na terra de Tio Sam". Ao anunciar a passeata, o boletim Surgente (18 de novembro) do Sindipetro teve uma foto de Mumia e destacou a chamada pela libertação do "militante anti-racista condenado à morte". O sindicato de trabalhadores de correios fez também a chamada pela libertação de Mumia na edição de novembro de seu jornal, O Grito Ecetista, como fez ademais o sindicato de trabalhadores de previdência (Sindisprev). 

Além disso, militantes do Movimento Negro Unificado, a Commissão pró-Centro de Cultura Proletária, Anarquistas Contra o Racismo, o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, dos seguidores do defunto Nahuel Moreno) y Ação Socialista (uma racha do morenismo) tiveram boletins, cartazes ou faixas exigindo a libertação de Mumia. 

A Liga Quarta-Internacionalista do Brasil teve um bloco de aproximadamente 25 pessoas que vestiram camisetas com a reprodução do cartaz multilingüe da Liga pela Quarta Internacional (LQI) que tem a palavra-de-ordem "Mobilizar a força da classe operária para libertar Mumia Abu-Jamal agora!" Militantes da LQB e do Grupo Internacionalista (EUA) falaram desde o carro de som sindical e de novo ao fim da passeata, sobre a necessidade de poderosas mobilizações operárias para ganhar a liberdade de Mumia. Os porta-vozes da LQI sublinharam também a luta da LQB para expulsar os policiais ("braço armado da burguesia") do movimento operário, advertindo contra as ilusões no sistema de "justiça" burguês e sobre a necessidade de levar a cabo fortes batalhas classistas contra a frente popular de colaboração de classes. O orador da LQB enfatizou que a luta pela libertação de Mumia é parte da luta pela libertação dos negros mediante a revolução socialista. Foram distribuídos centenas de boletins de Vanguarda Operária sobre Mumia e a necessidade de construir um partido operário revolucionário na luta contra a frente popular ao redor do social-democrático Partido dos Trabalhadores de Lula e a cúpula da CUT. 

A luta para mobilizar a classe operária para ganhar a libertação de Mumia foi um dos pontos focais da passeata do dia 22 de novembro, e a luta continua. O 24 de novembro, cerca de 600 trabalhadores bancários do Rio aprovaram com entusiasmo em duas assembléias sindicais incluir a libertação de Mumia como uma das exigências oficiais de sua paralisação do dia seguinte. Diário BancáRio (26 de novembro) disse: "Os funcionários do BB [Banco do Brasil] aprovaram na assembléia da quarta-feira incluir a libertação do jornalista negro americano Mumia Abu-Jamal como uma das reivindicações do movimento" de greve. No dia 25 de novembro, a Escola Agrícola de Pinheiral, parte da Universidade Federal Fluminense, foi cenário de uma conferência organizada pela LQB sobre o caso de Mumia, com a participação de mais de 50 estu-dantes. A escola foi paralisada durante a ação dos professores por Mumia no 23 de abril de 1999, e novamente no 10 de novembro em solidariedade com a "voz dos sem-voz". 

No sábado 27 de novembro, o Sepe iniciou sua conferência educacional com um ponto especial sobre Mumia. Ao final do dia, os mais de 400 delegados votaram para fazer uma paralisação no 7 de dezembro, durante o período de exames, para protestar contra a política de privatizações e demissões do governo estadual da frente popular e para exigir a libertação de Jamal. A paralisação do Sepe foi levada a cabo no mesmo dia em que os advogados de Mumia entregaram ao tribunal federal de Filadélfia a documentação de sua apelação de habeas corpus

Nos últimos dez anos a luta para salvar a vida de Mumia contra os que querem executá-lo tem sido o foco da luta internacional contra a bárbara pena de morte. A determinação da classe dominante norte-americana de silenciar Jamal é a continuação da campanha burguesa para fazer desaparecer o espectro dos revolucionários negros, desde o assassinato de Malcolm X e de dezenas de militantes do Partido Pantera Negra sob o programa Cointelpro de provocação e extermínio montado pelo FBI (polícia secreta dos EUA) nos anos 60, até a tentativa prolongada de assassinar Mumia Abu-Jamal, anterior-mente um dos dirigentes dos Panteras Negras em Filadélfia. Por isto é de importância crucial que esta luta por sua libertação se enfoque corretamente contra o sistema racista de injustiça capitalista, que dirige seus ataques com especial força contra as minorias, os imigrantes e os trabalhadores. Vários esquerdistas reformistas fazem chamadas por um "novo julgamento" para Jamal, esperando apelar aos liberais que crêem que sua sentença de morte foi só uma aberração. Contra isto, a LQI tem insistido em que a luta deve ser "pela libertação de Mumia Abu-Jamal" e que a classe operária e os oprimidos não devem ter nenhuma ilusão no sistema de "justiça" burguês. 

                                                                           Vanguarda Operária

Faixa da LQB na passeata de 22 de novembro no Rio. A batalha pela liberdade de 
Mumia é parte da luta pela libertação dos negros mediante a revolução socialista.

Nos recentes protestos dos trabalhadores brasileiros, partidários da corrente social-democrata dirigida pelo pseudo-trotskista francês Pierre Lambert propuseram inicialmente que a paralisação do 10 de novembro exigisse um "novo julgamento" para Mumia. Em uma reunião convocada pela Conexão Zumbi, Cerezo, porta-voz da LQB, objetou dizendo que isto representaria um passo para atrás com respeito à paralisação do Sepe levada a cabo no 23 de abril, que fez a chamada clara pela libertação de Mumia. Ademais, pedir um novo julgamento semearia inevitavelmente ilusões nos tribunais capitalistas, que desde o começo têm buscado silenciar a "voz dos sem-voz" mediante o linchamento legal. O ponto foi colocado claramente na votação, na qual houve uma contraposição de "novo julgamento" contra "libertação" de Mumia, e a palavra-de-ordem de libertação ganhou. Dois dias depois em uma assembléia da CUT no dia 6 de novembro, a questão foi debatida mais uma vez, e mais uma vez a resolução pela libertação de Mumia triunfou. 

Os acontecimentos recentes devem ser o começo de mobilizações operárias ainda mais poderosas no espírito do Socorro Vermelho Internacional (organização de defesa operária vinculada à Internacional Comunista) dos anos 20. O espírito internacionalista dos operários brasileiros que se têm mobilizado em solidariedade com Jamal, assim como a batalha levada pela LQB e LQI por ações operárias independentes para ganhar a liberdade de Mumia Abu-Jamal, devem servir como inspiração para os operários com consciência de classe ao redor do mundo, desde África do Sul, onde a pena de morte foi um instrumento fundamental para impor a escravidão do apartheid, até Europa e o coração mesmo do imperialismo ianque. 

Traduzido de El Internacionalista (dezembro de 1999) 

 
 

Declaração de apoio
para a paralisação no Brasil

por Mumia Abu-Jamal,
9 de novembro de 1999

Irmãs, irmãos, amigos e camaradas no Brasil: Ona Move! [saudação usada pelo grupo Move]
 Agradeço as ações corajosas e principistas de vocês em apoio à vida, a liberdade e a justiça.

 Llhes escrevo de um país cuja existência é conhecida por muitos, mas cuja realidade fica desconhecida seguramente para muitos de vocês. Sabem que mais de 3.000 homens e mulheres, a maioria deles negros, aguardam o extermínio nos corredores da morte dos EUA? Sabem que mais de 30 milhões de pessoas vivem na miséria horrível dentro do país mais rica da Terra?

 O corredor da morte, e a prisão, é um lugar reservado para os pobres.

 O fato de que vocês suspendem o trabalho em defesa de uma pessoa de um lugar tão horrendo manifesta a força da solidariedade humana de fronte da repressão estatal, e reflete nossa unidade. Obrigado a vocês, lhes aplaudo; e lhes verei na liberdade! Ona Move! Viva John Africa!


 

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